Quando me fiz eu
Recomendo: Better love - Hozier
Eu enlouqueci com tudo, o sofrimento fez-me perder a cabeça e tornou-me instável. Despi-me de tudo. Da sanidade e dos meus sonhos. Das memórias e sentimentos que tornariam-me fraca.
Tornei-me num produto de obrigação, uma cópia adulta daquilo que queriam em que eu me tornasse. Eu nunca estive livre, na verdade ninguém é livre, fomos feitos para cumprir prazos de expectativas que nem sequer são nossas. E a merda toda, é que esses prazos mantêm-me presa. Estes prazos mantêm-nos em personagens que duram a vida toda. Porra, nem sequer somos os protagonistas.
Eu não reconhecia a mulher dentro de mim, alguma coisa tinha mudado de forma permanente e nem sequer sei qual foi o gatilho... A mulher que sempre acreditou em fantasias e num mundo e pessoas melhores, tinha sido destruída completamente. Os meus olhos tornaram-se vazios, o meu coração completamente silencioso, as minhas veias fechadas.
Tudo em meu corpo tornou-se estéril. Eu só seria capaz de exibir qualquer sinal de vida, quando estivesse perto de terror. E se estivesse a vir de mim melhor. Puro terror, igual a uma bomba orgasmica.
Às vezes, eu gostaria de ter sido encontrada mais cedo. Mas eu não consigo prever uma vida pior ou melhor que esta, eu não consigo ver além do presente. Às vezes é bom fingir, fingir que eu talvez seja normal como todo mundo. Não importa as coisas terríveis que seja capaz de fazer, fingir que não há nada de errado comigo é a melhor das decisões para iludir-me que talvez eu poderia ter sido diferente. Iludir-me que talvez eu poderia ter sido mais luz do que escuridão.