segunda-feira, 11 de setembro de 2017

[Utopia: Algemas ósseas]


         Utopia: Algemas ósseas

         Recomendo: Heartbeat – Nneka



A necessidade que sinto, a necessidade maior de querer ter-te aqui comigo, não compara-se a necessidade que tenho para ultrapassar a mutação, e ser tratada como igual.
Porque obviamente é o necessário, ou não?
Olhei para mim e senti dor, senti agonia.
Provei o outro lado da morte, o lado que não me quer largar.
O lado que fez-me apaixonar.
Sou o que não deveria ter sobrevivido, uma anomalia, um vírus. A imperfeição das imperfeições. Este corpo é tudo que sou. Este corpo que grita pela necessidade de ser tocada, possuída, suportada.

E toco-me.
Toco-me!
Mas não é suficiente, meus dedos são fracos demais, sou menos agressiva comigo. Amo-me demais!

Por favor, faça com que a dor piore. Não me quero reconhecer, não quero conhecer nada mais do que este chão frio, húmido e sujo. Sujo como a alma que habita em mim, a alma que fez-me estéril.

Mas, espere!
Há algo mais, há um outro vazio por perto!  
Chamo-lhe, peço-lhe que junte-se á mim. Mas o outro vazio tenta roubar o que resta de mim.
Eu tento resistir.
Não, não te quero.
Oh fique!
Não, vai-te embora!

Estou perdida, estou sozinha. Toco-me, até me perder ao sono profundo de prazer, derivo-me ao êxtase que livrou-me da dor.
Sozinha, completamente perdida, descubro depois de ter provado o sabor do aroma que sentia, nestes últimos dias que isto não é o que necessito.
Conheci nada mais que a agonia, mas tu me mostraste que há algo mais dentro de mim.
Algo pior.
Algo cativante.
Escuridão.
Meu sonho foi conquistar tudo, mas contento-me com o silencio de ossos quebrados.


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